Em tempos de conexões digitais e rotinas aceleradas, as amizades verdadeiras surgem como pilares fundamentais para o bem-estar emocional. Comemorado em 18 de abril, o Dia do Amigo convida à reflexão sobre como esses laços impactam positivamente a saúde mental. Mais do que companhia, os vínculos afetivos funcionam como uma forma de cuidado, às vezes silenciosa, mas sempre potente.
Pesquisas recentes reforçam a importância das amizades para a saúde. Um estudo publicado pela American Psychological Association indica que amizades estáveis e saudáveis são cruciais para o bem-estar e a longevidade. Os dados revelam que relações interpessoais positivas podem ajudar a reduzir sintomas de ansiedade e depressão, além de favorecer a saúde cardiovascular e cognitiva.
Para a psicanalista, filósofa e autora Ana Matos, relações de amizade verdadeiras são instrumentos potentes de regulação emocional. "Não é qualquer relação, mas aquelas em que existe espaço para ser quem se é, com todas as vulnerabilidades, silêncios e afetos", afirma. A especialista destaca que a amizade toca um lugar profundo de pertencimento. E esse sentimento, por si só, tem efeitos diretos no corpo: quando nos sentimos pertencentes, o sistema nervoso se regula, o estresse diminui e há uma sensação de relaxamento. "Um dos grandes antídotos contra o estresse moderno pode ser mais simples do que parece: uma boa conversa, uma escuta genuína, um afeto compartilhado", completa.
Além de promover conexões emocionais profundas, a convivência com amigos estimula a liberação de substâncias como serotonina e ocitocina — neurotransmissores que ajudam a regular o humor e fortalecem a sensação de prazer e segurança. São eles os conhecidos “hormônios da felicidade”.
Manter amizades na vida adulta, no entanto, pode ser um desafio diante das múltiplas demandas do cotidiano. Para Ana Matos, entre trabalho, filhos, relacionamentos e o cansaço mental, os vínculos afetivos muitas vezes acabam ficando em segundo plano. "A vida adulta nos empurra para um isolamento silencioso, que vai se naturalizando com o tempo. Mas a verdade é que o afeto não é opcional, ele é necessário para a saúde emocional", destaca. Segundo ela, é preciso abrir espaço na agenda para nutrir esses laços: “Talvez a gente não se veja toda semana, talvez os encontros sejam mais curtos, mas o que sustenta a relação é a qualidade do vínculo, não a frequência”.
Ter ao lado alguém que nos conhece, que nos acolhe sem julgamentos, pode ser um verdadeiro porto seguro. Essa sensação de acolhimento e segurança emocional é essencial em um mundo cada vez mais exigente e solitário.
Embora as redes sociais facilitem o contato, elas não substituem a interação face a face. O contato presencial com amigos está diretamente associado à melhora no humor e à redução de sintomas de depressão. Para Ana, é fundamental reconhecer que amizades virtuais e presenciais não são equivalentes, embora ambas tenham valor. “Existe uma potência real nas amizades construídas ou mantidas virtualmente. Elas podem oferecer apoio, escuta, acolhimento e até intimidade emocional. Mas o corpo também precisa de presença”, explica. O olhar ao vivo, o toque e o riso compartilhado no mesmo espaço produzem impactos únicos e profundos sobre o sistema nervoso. “O problema não é a amizade virtual e sim quando todos os vínculos se tornam apenas digitais, mediando experiências que, muitas vezes, o corpo precisa viver para processar emoções, desenvolver empatia e aliviar tensões”, completa a psicanalista.
Ela ainda ressalta que, especialmente em momentos de isolamento, mudanças geográficas ou quando há dificuldade de encontrar pessoas com afinidade no entorno, a tecnologia pode ser uma aliada. “As amizades virtuais podem funcionar como uma rede de sustentação importante. A tecnologia amplia as possibilidades de conexão e isso é positivo. Mas é importante não abrir mão da vivência afetiva presencial, sempre que possível. A qualidade dos vínculos importa mais do que o meio por onde eles se estabelecem. Não adianta estar fisicamente presente e emocionalmente ausente”, alerta.
Para a psicanalista, o ideal não é escolher entre uma ou outra forma de relação, mas sim perceber o que está em desequilíbrio e buscar mais presença afetiva seja na tela ou no encontro ao vivo.
Além dos efeitos emocionais, as amizades também influenciam positivamente a saúde física. Estudos indicam que laços afetivos consistentes podem melhorar a função cerebral, reduzir riscos de doenças cardíacas e até aumentar a longevidade. “Cultivar amizades pode ser tão importante quanto manter hábitos saudáveis como dormir bem, praticar atividades físicas ou manter uma alimentação equilibrada”, afirma Ana.
No Dia do Amigo, a data serve como lembrete: investir em relações verdadeiras não é apenas uma questão de afeto, é também uma escolha consciente pela saúde. E, para muitos, ter com quem contar faz toda a diferença no enfrentamento dos desafios da vida moderna.
Pietra Ribeiro
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